Dia primeiro foi aniversário da minha madrinha. Ontem e hoje irmã e tia. Em uma semana eu, minha prima, outra prima e mais uma galera. Fim do mês meu tio e uma amiga. Outubro é uma fertilidade.
Creio que inspirada pelos ares de outubro minha mãe pegou meu primo ontem para um papo-cabeça sobre métodos anticoncepcionais. Disse a ele: “dê um nó no pinto”... “porque olhe a carinha da Adriana, eu estava usando camisinha quando engravidei dela”.
Meu primo, entre uma e outra mordida na pizza, ria, não sei se por achar engraçado ou por constrangimento. Ele tem 25 anos.
Durante a minha adolescência fui descobrindo as coisas meio sozinhas. Lia capricho, comprava escondido. Li Confissões de adolescente, que comprei escondido também. Engraçado que não ousei pedir para meus pais o livro. Minha mãe achou no meu guarda-roupa e disse que alguém tinha dito que o livro era péssimo. Foi uma tempestade. Nesta mesma época vieram as propagandas de Tampax na televisão, que pregava a liberdade de movimentos. Eu queria nadar com liberdade, qualquer dia do mês. Pois comprei o absorvente e quando veio a tona foi mais uma tempestade.
Para mim, ainda hoje, virgindade é mais um estado de espírito que um detalhe fisiológico. Pode ser que quando eu seja mãe minha opinião mude. Ou talvez não.
A falta de informação deixa as meninas tontas. Digo meninas porque os meninos já esticam e puxam desde que tiram as fraldas. Quando eu tinha 15 anos fui numa festa de aniversário e numa rodinha de meninas eu perguntei o que acontecia com o “saco” na hora H... onde exatamente ele ficava. Pois passei a ser mais chacotada do que sempre fui. A subversiva Capricho não tinha me esclarecido detalhes tão profundos... a revista subversiva não foi além de discutir quando devemos dar o primeiro beijo e o dilema de dividir com a melhor amiga a mesma paixão. Início da década de 90... hoje deve estar mais interessante.
O fato é que nunca consegui conversar com minha mãe sadiamente sobre o assunto. A fúria pairava sobre a conversa: sexo é proibido. Mas fui sacando os pontos chaves da sobrevivência sexual: “Sabe quem está GRAAAAAAAAvida?”... “Coitada da mãe dela”. Então o grave era estar grávida. Mas um ponto ficou de fora: doenças sexualmente transmissíveis.
Tenho uma amiga com filha adolescente que mal a menina começou a namorar ela sentou a filha no sofá e chamou o pai. Começou a mostrar fotos de órgãos sexuais doentes. Falou de HIV e de toda espécie de perigo. Por último acrescentou a inviabilidade da gravidez na adolescência. Papo fácil? Penosíssimo. Mas tem a hora certa de acontecer e deve acontecer. A teoria do “nó no pinto” é ilustrativa, mas pobre em informação. Falar mais ou menos e entenda-se como queira também não adianta. Estou convicta que diferenciar meninos e meninas também não adianta... a menos que queiramos que os filhos só tenham experiências com profissionais.
Hoje posso dizer que compreendo muito minha mãe e a dificuldade que ela encontrou no momento de me explicar o que eu precisava saber. Sei que do lado dela ela sofreu, observando-me crescer e fez como pôde. Eu do meu lado sofri, descobrindo como pude.