Este sábado adiantei a festa junina e dancei quadrilha. Só faltou a chuva, prova de que nem tudo estava perdido.
Acordei as 5 da manhã. Na noite anterior já tinha comprado minha passagem do Cometa pela internet (diga-se de passagem que o sistema funciona e é eficiente). Fui pra rodoviária para rumar a avenida Paulista, Instituto Cervantes, para fazer a prova do DELE. Tudo seguia o planejado.
Um pouco antes das 7 da manhã o buzão pára na Castelo. O motorista levanta, ajeita a calça com a calma de quem já sabia e diz: “teve um acidente as 4 da manhã... 30 veículos”. Arregalei os olhos e perguntei: “pela sua experiência, a que horas chegaremos na Barra Funda?”... “às 10h, pelo menos”.
Me deu uma fome imediata. Catei o saquinho de doritos e comecei a comer.... 7 da manhã. Chupei os dedos pensando nas possibilidades. Liguei pro Instituto Cervantes, a voz eletrônica me disse que só depois das 8h. Esperei. Li. Sorri para o tio do lado, manchado pelo vitiligo.
Liguei pro Cervantes e expliquei a situação. Nada feito, perderia a prova, os 200 reais por ela, fora as horinhas de sono já perdidas com o pezinho no Du...
A estrada que estava bloqueada nos dois sentidos, foi liberada no sentido interior. Resolvi atravessá-la e tomar o primeiro buzão de volta. Desci do ônibus e perguntei pro motorista o preço de volta, e como encontraria de novo nosso ônibus caso minha empreitada falhasse. “Tá vendo aquele número ali em cima, 1252? É o nosso.” Desejei boa viagem a ele e parti.
Atravessei a grama do centro do canteiro (é enorme, não parece quando dirigimos) e cheguei a estrada. Olhando os carros passando pensei na minha aula de trânsito da pré-escola, numa visita à ADPM. O “Tio Mixirica”, um guarda, mostrava os slides de como atravessar a rua na faixa de pedestre. O exemplo de quem atravessou fora da faixa mostrava a didática foto de uma longa lingüiça, dessas de churrasco. Tive medo de virar lingüiça e comecei a caminhar pela borda da estrada. É super inclidada essa borda, dói os tornozelos.
Voltei a atravessar o gramado, para o outro lado da estrada, onde havia gente, engarrafamento e sol, porque o frio estava de arrebentar. Tinha de tudo ali, gente fazendo amizade para passar o tempo, música alta, fumantes. Me olhavam com assombro ao me ver passar, eu buscava a primeira pasarela para o outro lado. Uns jovens me perguntaram se eu tinha um Red Bull.
Andei uns 4 Km me sentindo a mulher mais gostosa da face da terra. Na falta de coisa melhor para preencher o tempo, ao passar olhavam minha bunda. Por curiosidade ou fetiche.
A passagem de carros foi liberada e todo mundo correu para seus veículos. O 1252 estava muito longe. Vi outro Cometa prestes a acelerar e bati na porta, expliquei minha desventura ao motorista e pedi carona até a passarela mais próxima.
No Castelinho da Pamonha comecei a subir as escadas da passarela. Cheguei ao último degrau e avancei três passos. No chão algo brilhante me chamou a atenção. Olhei incrédula: uma cobra. “Essa coisa está viva?”. Recuei três passos. Pensei. Olhei pra baixo e vi que a estrada ali era dividida por um muro de cimento. Sem chances. Olhei pra cobra: 30 cm, preta, brilhante, fina, linda. Fazia alguns SS com seu corpinho. Me olhava de frente. Ponderei e dei um salto. Caí longe dela, ela se mexeu e parecia ter mais medo que eu.
Descendo a passarela encontrei dois homens subindo, alertei sobre a cobra. “VIVAAA?” me perguntou um deles. Fiquei olhando lá de baixo, mataram a coitada.
Muita gente usa a passarela, moças, crianças, homens, motos.
Ali no ponto de ônibus tive outro desafio: não passar-me por prostituta. Eu estava numa “ilha”, estrada de um lado, ruinha do outro, um bar ali atrás. Muitos caminhões buzinaram. Alguns buzinaram e tiraram o pé do acelerador para ver a “resposta” que eu poderia dar. Outros entravam devagarzinho na ruinha atrás da ilha e eu impassível. Resolviam voltar pra estrada acelerando firme. Passaram três Cometas lotados e escoaram-se uns 80 minutos. Encostou um carro grande cheio de gente e sobrando um lugar. O motorista me disse “Sorocaba? 12 reais”. Subi. A mulher da frente contava para o motorista que uma vez por semana visitava a casa de Deus e que ele também deveria visitar. Como a vida dela tinha melhorado, como de uma portinha de sucos agora tinha uma lanchonete de verdade. Ao descer ela disse ao motorista: “Se converta e fique com Deus”. Uma mulher que sorria ao falar de Deus.
A conversa da mulher me fez relaxar. Senti que meus braços cruzados numa pose anti-prostituta tinham absorvido minhas energias. Tudo doía e mais intensamente os braços (doeram até de noite). Almocei e dormi o sono dos justos, com pijama e sonhos. Me sentia absolutamente feliz.
No fim, podia ter sido pior, podia ter chovido. Pensei isso no ponto de ônibus e fui compondo meu diário. Me lembrei das quadrilhas, com seus casais coloridos recuando no “Olha a cobra”, “a ponte caiu”... “olha a chuva”.
Menina de sorte.
Acordei as 5 da manhã. Na noite anterior já tinha comprado minha passagem do Cometa pela internet (diga-se de passagem que o sistema funciona e é eficiente). Fui pra rodoviária para rumar a avenida Paulista, Instituto Cervantes, para fazer a prova do DELE. Tudo seguia o planejado.
Um pouco antes das 7 da manhã o buzão pára na Castelo. O motorista levanta, ajeita a calça com a calma de quem já sabia e diz: “teve um acidente as 4 da manhã... 30 veículos”. Arregalei os olhos e perguntei: “pela sua experiência, a que horas chegaremos na Barra Funda?”... “às 10h, pelo menos”.
Me deu uma fome imediata. Catei o saquinho de doritos e comecei a comer.... 7 da manhã. Chupei os dedos pensando nas possibilidades. Liguei pro Instituto Cervantes, a voz eletrônica me disse que só depois das 8h. Esperei. Li. Sorri para o tio do lado, manchado pelo vitiligo.
Liguei pro Cervantes e expliquei a situação. Nada feito, perderia a prova, os 200 reais por ela, fora as horinhas de sono já perdidas com o pezinho no Du...
A estrada que estava bloqueada nos dois sentidos, foi liberada no sentido interior. Resolvi atravessá-la e tomar o primeiro buzão de volta. Desci do ônibus e perguntei pro motorista o preço de volta, e como encontraria de novo nosso ônibus caso minha empreitada falhasse. “Tá vendo aquele número ali em cima, 1252? É o nosso.” Desejei boa viagem a ele e parti.
Atravessei a grama do centro do canteiro (é enorme, não parece quando dirigimos) e cheguei a estrada. Olhando os carros passando pensei na minha aula de trânsito da pré-escola, numa visita à ADPM. O “Tio Mixirica”, um guarda, mostrava os slides de como atravessar a rua na faixa de pedestre. O exemplo de quem atravessou fora da faixa mostrava a didática foto de uma longa lingüiça, dessas de churrasco. Tive medo de virar lingüiça e comecei a caminhar pela borda da estrada. É super inclidada essa borda, dói os tornozelos.
Voltei a atravessar o gramado, para o outro lado da estrada, onde havia gente, engarrafamento e sol, porque o frio estava de arrebentar. Tinha de tudo ali, gente fazendo amizade para passar o tempo, música alta, fumantes. Me olhavam com assombro ao me ver passar, eu buscava a primeira pasarela para o outro lado. Uns jovens me perguntaram se eu tinha um Red Bull.
Andei uns 4 Km me sentindo a mulher mais gostosa da face da terra. Na falta de coisa melhor para preencher o tempo, ao passar olhavam minha bunda. Por curiosidade ou fetiche.
A passagem de carros foi liberada e todo mundo correu para seus veículos. O 1252 estava muito longe. Vi outro Cometa prestes a acelerar e bati na porta, expliquei minha desventura ao motorista e pedi carona até a passarela mais próxima.
No Castelinho da Pamonha comecei a subir as escadas da passarela. Cheguei ao último degrau e avancei três passos. No chão algo brilhante me chamou a atenção. Olhei incrédula: uma cobra. “Essa coisa está viva?”. Recuei três passos. Pensei. Olhei pra baixo e vi que a estrada ali era dividida por um muro de cimento. Sem chances. Olhei pra cobra: 30 cm, preta, brilhante, fina, linda. Fazia alguns SS com seu corpinho. Me olhava de frente. Ponderei e dei um salto. Caí longe dela, ela se mexeu e parecia ter mais medo que eu.
Descendo a passarela encontrei dois homens subindo, alertei sobre a cobra. “VIVAAA?” me perguntou um deles. Fiquei olhando lá de baixo, mataram a coitada.
Muita gente usa a passarela, moças, crianças, homens, motos.
Ali no ponto de ônibus tive outro desafio: não passar-me por prostituta. Eu estava numa “ilha”, estrada de um lado, ruinha do outro, um bar ali atrás. Muitos caminhões buzinaram. Alguns buzinaram e tiraram o pé do acelerador para ver a “resposta” que eu poderia dar. Outros entravam devagarzinho na ruinha atrás da ilha e eu impassível. Resolviam voltar pra estrada acelerando firme. Passaram três Cometas lotados e escoaram-se uns 80 minutos. Encostou um carro grande cheio de gente e sobrando um lugar. O motorista me disse “Sorocaba? 12 reais”. Subi. A mulher da frente contava para o motorista que uma vez por semana visitava a casa de Deus e que ele também deveria visitar. Como a vida dela tinha melhorado, como de uma portinha de sucos agora tinha uma lanchonete de verdade. Ao descer ela disse ao motorista: “Se converta e fique com Deus”. Uma mulher que sorria ao falar de Deus.
A conversa da mulher me fez relaxar. Senti que meus braços cruzados numa pose anti-prostituta tinham absorvido minhas energias. Tudo doía e mais intensamente os braços (doeram até de noite). Almocei e dormi o sono dos justos, com pijama e sonhos. Me sentia absolutamente feliz.
No fim, podia ter sido pior, podia ter chovido. Pensei isso no ponto de ônibus e fui compondo meu diário. Me lembrei das quadrilhas, com seus casais coloridos recuando no “Olha a cobra”, “a ponte caiu”... “olha a chuva”.
Menina de sorte.
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