Rua Lins

Meu avô se chamava André, mas todos o conheciam como Lins. Meu vô Lins.
Por uma coincidência -ou não-, moro na rua que leva seu nome, o real, não o apelido.

domingo, 19 de agosto de 2012

Pequena declaração de amor

Na insônia, numa noite que passou, estava pensando na amizade. Talvez o tema tenha me saltado ao pensamento por ter lido há alguns dias, solta numa folha de papel, uma frase escrita três vezes: ‘O correio de amigos é doçura’; e tenha sido convidada a refletir sobre ela, pra só então, depois, saber tratar-se de um poema de Drummond.
 Eu, que sou dada às sensibilidades e sentimentalismos, tento ponderar aqui e ali, a fim de não afugentar outras sensibilidades com meus excessos. Mesmo assim revelo alguns eu-te-amos, quando sinto que é isto mesmo e que não poderia me conter...
Não tenho amigas de infância, mas algumas que valeriam por estas. Há algumas que passo meses, quase ano sem ver, e quando do encontro fica aquele ar de ‘parece que nos falamos ontem mesmo’.  É um punhado pequeno, mas que poderiam ser descritas de muitas maneiras... Muitas descrições pra uma, uma descrição pra muitas.
Aquela com quem passo da meia noite falando, tomando uma xícara de chá... Aquela que tem um caso de amor com as palavras... Aquela que cozinha como uma fada... Aquela que mora longe e surge como um cometa... Aquela que gosta de tirar o sapato aqui na sala... Aquela que poderia ser minha mãe... Aquela que guarda ‘um nosso segredinho’... Aquela que parece um anjo de um afresco italiano... Aquela que usa camisas de lese hipnotizantes... Aquela que divide comigo o gosto por gravuras... Aquela que me diz a palavra exata... Aquela que perdoa minha ausência... Aquela que gosta de plantas.... Aquela que está apaixonada... Aquela que, tal qual Virgílio, me situa nestes caminhos estranhos... Aquela que divide comigo as ternuras-agruras da maternidade... Aquela que divide comigo as reflexões sobre espiritualidade... Aquela que me ensina, sempre... Aquela que reencontrei depois de um desvio... Aquela que conhece todas as minhas fraquezas... Aquela que nasceu pra ser mãe... Aquela que respeita meus mergulhos em mim...
Não sei quantas ou quais cores eu adiciono à vida de cada uma delas. Apenas sei, incontestavelmente, que cada faz da minha vida maior... e toda vez que nelas penso, é Doçura.

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