E este ano de 2012 chega ao fim, ano
que desvesti algumas roupagens e que redescobri em mim algumas camadas que
estavam veladas. Para o querido 2013 que chega poderia fazer uma lista de
afazeres, de promessas, de perspectivas. Não... Apenas o desejo de ser mãe
paciente com minha Maricota a cada refeição que ela faz manha, a cada objeto
que ela empurra de maneira desavergonhada para que caia no chão, a cada
instrução que tenho que dar pela enésima vez. Desejo a sabedoria necessária para
orientá-la pelo caminho do equilíbrio, para que seja tão feliz quanto possa
ser. Cultivo para o tempo que chega o desejo de ser uma pessoa melhor, mais
honesta, sobretudo comigo mesma. Cultivo para o ano que chega o desejo do
sorriso franco, do coração aberto, das mãos dadas.
Para estes dias de transição e
espera pelo ano novo, arrumei meu guarda-roupas. O primeiro de muitos armários
que serão abertos nos próximos dias. Tenho essa necessidade nestas épocas:
descobrir o que está guardado, limpar, selecionar, arrumar, reclassificar.
Arrumo e penso. Encontro fotos, um pé de meia perdido, um objeto querido, uma
carta. Abro as portas de meus armários como quem perscruta as gavetas interiores
[da alma].
O ano que já se vai foi
importante, não pelos últimos doze meses, mas com um período mais amplo, em que
redesenhei rotas. Engraçado falar de rotas, mas é assim que percebo as linhas,
os liames entrecruzarem-se sob meus pés. A percepção de um ciclo que se iniciou
meses antes de 2012, a muitos pés de altura, rumando para Rio Branco no Acre. Lá
do alto emocionei-me com a beleza e com a sensação de liberdade. Percebi que o
Mato Grosso é uma grande superfície harmonicamente marchetada e que os rios que
cortam a Amazônia parecem sim serpentes abraçando esse pedaço de terra que
também é Brasil. A tantos pés de altura e tão longe de casa, fiquei mais perto
de mim e tive tempo de pensar (às vezes, em nossas vidas de quase máquinas, não
nos é permitido este tempo). Acho que 2012 foi o ano de desejar ser menos
máquina. E para 2013, como li numa oração num dia destes, quero “suspender o
automatismo da ação”, quero viver-sentir.
E para cada pessoa que conheço ou
desconheço, desejo para o ano que se aproxima que toda engrenagem que vai
dentro seja coração. Que nada seja arrastado, mas vivido. Que roupagens velhas
possam ser mudadas, que trajetos possam ser redesenhados, que armários possam
ser arrumados, que gavetas interiores sejam vasculhadas. Desejo a cada um, de
todo meu coração, a paz.